nesses novos/velhos caminhos tenho pensado muito sobre o repertencimento.
meus trabalhos andavam interessados em tocar em assuntos como apropriação e pertencimento, o que de uma certa maneira falava do ponto de vista do que é estrangeiro, dos primeiros contatos com o novo.
mas o engraçado é que eu nunca havia parado para pensar o quão constante são estes exercícios quando o deslocamento é uma condição permanente. nada fica no lugar, nem eu, nem os lugares, suas arquiteturas e pessoas, mesmo que tudo ‘se’ acredite que sim. embora belo horizonte seja a minha cidade natal tenho a sensação de que vivo na ficção do se instala na memória, tanto na minha própria quanto na dos outros, dos mais aos menos íntimos. ou mais ainda no que é do terreno da imaginação, a ficção do que era quando não estava ali. fico pensando em estratégias de não me perder nisso tudo, de me manter atenta e curiosa, mesmo diante das repetições.
há, precisamente, 7 anos eu não pratico o balé clássico. quando parei, eu me disse que não o faria mais, não faria porque não encontrava sentido. durante os anos da graduação eu basculei entre achar uma maravilha e um absurdo o fato de não se praticar esta técnica de modo obrigatório. atualmente tenho revisitado este treinamento, em aulas na cia seráquê?, e é muito desafiador me “recolocar” neste contexto, repertencer sem que seja pelo caminho do que era antes, do que era o meu entendimento de corpo, de experiência e de dança. porque “a tal memória corporal” reativa tudo, de boas lembranças às doces violências, cheiros, expectativas, tudo. mas pode ser mais simples, ou leve, ou superficial, parece que é se deixar levar um pouco pelo abdômen, pela flexibilidade, pelo contratempo da cabeça; mas é inevitável pensar que ao praticá-lo eu estou também praticando uma visão de corpo, um corpo, uma política. acho tudo isso muito contraditório, o que me faz pensar que se deslocar é acima de tudo estar disposta à lidar com diferenças, que às vezes são a própria contradição, é de um modo criativo transformar estas revisitas em algo ainda mais sobreposto, acumulado.
como inserir esta camada=balé na minha vida de agora.