O estudo em 30 metros foi um trabalho desenvolvido entre os meses julho e agosto nos arredores da Galeria Olido [São Paulo], durante o programa de residência artística Entorno. Neste estudo investiguei diversos modos de colecionar os gestos dos transeuntes e organizá-los em forma de partitura coreográfica para futuramente desenvolver a ‘Pequena Coleção de Gestos Ordinários’. Durante este processo eu pude contar com a colaboração dos artistas também em residêcia, além da orientação do arquiteto Mauricio Leonard e do coreógrafo Wagner Schwartz.
Movida pela questão: até que ponto o corpo de uma cidade é evidente? Busquei modos possíveis de registrar esta abundância gestual presente nas ruas desta cidade, me questionando o que a aponta como diferente das outras. Seriam os pequenos gestos capazes de conter em si a dinâmica de uma cidade inteira? Como reconhecer em meu corpo, no meu modo de dançar as cidades pelas quais passei? As linhas no espaço público [faixa de pedestre, corredores, praças] desenham o trajeto dos gestos, como redesenhar estas linhas e criar estratégias para inventar outras linhas? Linhas que convidem ao movimento, que convidem à repensar o movimento em sua simplicidade, no que é corriqueiro,
na sua natureza ordinária.
Esta ação, do dia 19 de agosto de 2010, consistiu em desenhar continuamente durante 3 horas em 30 metros de papel os gestos dos pedestres da Praça da República, partindo de diferentes interesses: recortando o corpo, recortando o tempo/espaço, escrevendo as sutilezas, recebendo doações voluntárias de gestos. Em constante aprendizagem desta partitura coreográfica ordinária, combinando estes gestos colecionados a estímulos sonoros como ruídos de diferentes horários deste entorno e, músicas de diferentes épocas criadas e sobre esta cidade, buscando perceber o que se entende somente através da vivência real de determinado lugar.
Como entender a qualidade do gesto? A escolha de experienciar a exaustão/imersão me deu a oportunidade de dar foco a um mesmo gesto de modos distintos que variaram através da minha qualidade de presença, o sol das 13hs, a sombra das 16hs porém com a vivência de 2 horas de comunicação, o medo do início, o transe do meio, o abandono do fim, a vulnerabilidade, a exposição demasiada. A permanência propicia um desaparecer e, dar evidência passa a ser oscilações do que é este habitar um lugar.
O vídeo foi realizado em parte por uma ‘câmera-caneta-espiã’ que esteve no meu corpo quase a ação inteira, câmeras fotográficas portáteis de amigos e uma filmadora do alto de um prédio.
*** a coleção continua. as questões também.
ENTORNO / 1° Encontro Latinoamericano de Dança Contemporânea / http://www.corporastreado.com/entorno/